sexta-feira, 3 de julho de 2009

Beleza sáfica

Charles Mengin assim imaginou Safo por volta de 1877. A cena reporta-se à mítica história sobre o fim da poetisa de Lesbos, que se teria afogado por amor de Fáon, que é, afinal, uma figura literária de Ovídio nas Heróides. No séc. X, a Suda, uma espécie de léxico cultural bizantino, ainda recolhe esta falsa versão sobre o fim de Safo. Porém, noutra interpretação, esta associação de Safo a Fáon é uma tentativa de a desligar do campo semântico do homoerotismo, quiçá fruto de algum preconceito. Para além da associação da poetisa ao lesbianismo, Safo, a mulher que se sabe que teve uma filha e marido, permanece na nossa memória pela beleza literária, assim:

"Aquele parece-me ser igual aos deuses,
o homem que à tua frente
está sentado e escuta de perto
a tua voz tão suave

e o teu riso maravilhoso. Na verdade isto
põe-me o coração a palpitar no peito.
Pois quando te olho num relance, já não
consigo falar:

a língua se me quebrou e um subtil
fogo de imediato se pôs a correr debaixo da pele;
não vejo nada com os olhos, zunem-me
os ouvidos;

o suor escorre-me do corpo e o tremor
me toma toda. Fico mais verde do que a relva
e tenho a impressão de que por pouco
que não morro."

(trad. de Frederico Lourenço, em Poesia Grega de Álcman a Teócrito, Lisboa: Cotovia, 2006)

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