sábado, 4 de julho de 2009

O nascimento do mundo



Nos textos sumérios e acádicos que a tradição nos legou, não há nada que possa ser chamado de "história de criação", no entanto o tema do começo do mundo era comum a Sumérios e Semitas do Médio Oriente Antigo. Em vez da ideia de criação do mundo, operada por um criador supremo, como acontece na tradição bíblica, sumérios e semitas do médio Oriente pensaram um processo natural de desenvolvimento, um princípio interno de evolução, que desembocaria na ordem cósmica, no mundo organizado. Os próprios deuses nasceriam no decurso deste processo. Assim, o estado original do universo era um estado de indiferenciação, consistindo na existência de um único elemento: as águas primordiais, ou o grande fluido cósmico.


Curioso é que, dois milénios mais tarde, Anaximandro (n. 610 a.C), um filósofo grego pré-socrático, tivesse também pensado num princípio cosmológico, numa arquê, semelhante: uma matéria em que os elementos não estão ainda distintos, uma matéria infinita e indeterminada, designada em grego pela palavra ápeiron.


Em ambos os casos, no sumero-acádico e em Anaximandro, o processo de organização do mundo é um processo de diferenciação. Mas talvez seja fundamental a diferença entre ver o nascimento do mundo como processo histórico (na Suméria e na Acádia) e a organização do mundo como processo filosófico (Anaximandro). Para Anaximandro, é como se o mundo nascesse ao mesmo tempo que o conhecemos, conhecê-lo é criá-lo.

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