Arquíloco, conhecido na Antiguidade como o primeiro poeta grego depois de Homero e de Hesíodo, viveu na época das grandes colonizações gregas, no séc. VII a.C. Sabe-se que nasceu em Paros, ilha do Egeu que alberga cidade de nome igual. Filho de Enipo, uma escrava, experimentou a pobreza em vida, tendo de se mudar da sua ilha natal para Tassos. Ganhou a vida como mercenário estrangeiro, mas ficaria na nossa memória pela beleza dos seus poemas, vista apenas naqueles que conseguiram chegar até hoje, vinte e sete séculos depois de terem sido escritos. Os seus versos mostram que a luta era traço essencial do seu carácter, quer o combate bélico, quer a disputa em verso. No primeiro fragmento de Arquíloco, na ordenação de Diehl, o poeta reune a sua dupla natureza de poeta-soldado num eloquente dístico elegíaco:
"Eu sou o servidor de Ares, senhor Eniálio,
e sapiente dos amáveis dons das Musas."
Um claro antepassado do topos literário das armas e das letras, ou “the pen and the sword” na versão inglesa. Porventura o que mais espantará o leitor do séc. XXI é a associação destas duas actividades numa só pessoa. Ao invés do que acontece com “the pen and the sword”, que parece serem duas vias alternativas e mutuamente exclusivas de combate, em Arquíloco elas estão reunidas. Combater com uma delas não exclui a luta com a outra. Um guerreiro samurai do período clássico também não julgaria estranha esta associação. Contudo, quantos soldados-poetas temos hoje?
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