Mostrar mensagens com a etiqueta Antigo Egipto. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Antigo Egipto. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Charlie Hebdo no Egipto antigo

Cena de um papiro satírico
Tebas, Egipto,
c. 1100 a.C.

Documento da XX dinastia do Egipto antigo. Figuras de animais com os papéis invertidos ou deslocados: um leão e uma gazela (ou antílope) divertindo-se num jogo de tabuleiro, um canídeo a tocar flauta e um felino a conduzir um conjunto de gansos(?).
.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Martin Gardiner Bernal


10 de março de 1937 - 9 de junho de 2013


«The publication of Volume I of Black Athena transformed my life.»

Black Athena, II, xvi


domingo, 24 de julho de 2011

O deus careta

Bes
Berlim, Altes Museum, Época Baixa do Egipto

Bes, divindade egípcia protectora do lar. Afastava toda a espécie de perigos e protegia em especial as grávidas e as mães em fase de aleitamento. O afastamento dos males e perigos era conseguido, não por obra e graça do Espírito Santo, mas potenciado pela antítese de beleza da divindade. Uma espécie de deus careta.

Cf. ARAÚJO, Luís Manuel, "Bes" in Dicionário do Antigo Egipto, Lisboa: Caminho, 2001, p. 150.
.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Narrativa egípcia

 

 
Paleta de Narmer, c. 3150 a.C.
Museu Egípcio do Cairo

O objecto conhecido por “paleta de Narmer”, dedicada ao templo do deus Hórus pelo rei Narmer, que reinou c. 3150 a.C., continua a suscitar significativas dificuldades de interpretação. A peça tem uma qualidade estética notável para uma obra de arte produzida há mais de cinco mil anos.

A faixa superior do verso representa o rei Narmer em procissão, saindo do palácio singelamente representado por um rectângulo; diante da procissão estão dez corpos decepados, cada um deles com a cabeça entre as respectivas pernas; na leitura de alguns, as cabeças estão encimadas pelos pénis dos cadáveres, excepto uma delas; uma barca acima dos cadáveres parece esperar por alguém; a parte inferior do verso contém um touro, possível símbolo da força propagandeada de Narmer.

Na parte da frente da paleta, está representado Narmer com uma maça na mão, agarrando um homem de tipo não egípcio pelo cabelo; abaixo de Narmer, jazem dois homens, um deles circuncidado e outro nem por isso; acima do homem ajoelhado perante Narmer está um falcão, símbolo de Hórus, segurando uma corda atada ao nariz da cabeça de um homem; a cabeça, projecta-se de um campo de plantas de papiro, em possível representação de uma vitória de Narmer propiciada pelo deus Hórus. As conotações políticas da peça são inescapáveis. Já descobrir o significado de alguns detalhes ou perceber a ordem narrativa das secções não é assim tão fácil.

Cf. TEETER, Emily, Before the Pyramids, Chicago: Oriental Institute, 2011.
.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Propaganda


Pedra de Roseta

Ano 9, Xandikos, dia 4, que corresponde ao mês egípcio Mekhir, dia 18 [=27 de Março de 196 a.C.] no reino do jovem rei que ascendeu ao lugar de seu pai, o senhor da sagrada serpente uraeus cujo poder é grande, que protegeu o Egipto e o tornou próspero, cujo coração é piedoso perante os deuses, aquele que prevalece sobre o inimigo, que enriqueceu a vida do seu povo, senhor dos jubileus como Ptah-Tanen [deus de Mênfis], rei como Ré [o deus solar], senhor das Duas Terras, filho dos deuses que amam o seu pai, que Ptah escolheu e a quem o Sol deu a vitória, imagem viva de Amon, o filho do Sol, Ptolemeu, que vive para sempre, amado de Ptah, o deus manifesto cujo benefício é perfeito [Ptolomeu V Epifâneo Eucaristo]…

Tradução livre da abertura do texto da Pedra de Roseta, um decreto do supremo conselho sacerdotal de Mênfis, acerca das medidas de Ptolomeu V Epifâneo (205-180 a.C.). A Pedra de Roseta, escrita em egípcio hieroglífico, demótico e grego, para além da farta propaganda política, permitiu a Jean-François Champollion, em 1822,  decifrar a escrita hieroglífica, sendo por isso um documento histórico da maior importância. E que diria Champollion se visitasse hoje o Egipto, espantar-se-ia com a renitência de algum recalque faraónico?

Cf. RAY, John, The Rosetta Stone, London: Profile Books, 2007.
.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O primeiro egiptólogo

Khaemuaset frente a Ramsés II,
templo de Amenhotep III, em El-Kab

Dentre os mais de cem filhos de Ramsés II (1289-1224 a.C.), como o próprio deixou escrito, um deles haveria de demonstrar um elevado interesse em conhecer o passado do seu país. Khaemuaset, cujo nome significa “o que brilha em Tebas”,  é por isso frequentemente considerado o primeiro egiptólogo antes mesmo deste conceito existir. Designado, aos trinta anos, o Sumo Sacerdote de Ptah, em Mênfis, a carreira eclesiástica haveria de lhe dar tempo para se dedicar ao estudo do Egipto antigo, país que já no seu tempo tinha dois mil anos de história à espera de meditação. Com acesso às melhores bibliotecas do Egipto do seu tempo, em Mênfis e Heliópolis, investigou avidamente o passado egípcio e promoveu a reconstrução de monumentos antigos. Enquanto Ramsés II, um propagandista de primeira água, fazia crescer a sua popularidade, pode imaginar-se Khaemuaset no seu scriptorium ou lendo hieróglifos nas paredes de templos e mastabas, investigando a história do seu país.

Cf. RAY, John, Reflections of Osiris, Lives from Ancient Egypt, Oxford: University Press, 2002.
..

quinta-feira, 4 de março de 2010

Magia afrodisíaca

Menna pescando. Túmulo de Menna, Tebas, 1400-1350 a.C.

No Antigo Egipto, o acto mágico não era entendido como bruxaria de segunda linha, mas, pelo contrário, tinha o carácter de uma prática sagrada, já que continha a força criativa que existira no estabelecimento do universo. Mesmo a magia privada tinha um estatuto importantíssimo no quotidiano do homem egípcio, servindo quer para proteger da doença, quer para impedir que as privações o atingissem.

Os rituais mágicos empreendidos eram diversos, comportando palavras e ingredientes criteriosamente seleccionados, sendo realizados em momento adequado e propício ao bom efeito desejado. Por exemplo, julgava-se que os rituais teriam mais efeito ao amanhecer, quando as forças cósmicas se renovam. A potenciação do ritual, nalguns casos, passava ainda pela pureza do oficiante do ritual, conseguida por exemplo pela abstinência da carne de porco (ou de peixe) ou mesmo por meio de procedimentos especiais como a circuncisão ou a rapagem do cabelo e dos pêlos do corpo. Alguns papiros greco-egípcios indicam mesmo que o oficiante da magia não podia ter relações sexuais durante três ou sete dias.

No documento conhecido por Papiro Demótico de Londres-Leiden, encontra-se a descrição de um ritual destinado a obter o amor de uma mulher. De início, o mágico deveria fazer a invocação das deusas associadas com o olho solar, solicitando então que o poder de Ré entrasse no óleo perfumado que ele usaria como afrodisíaco. No passo seguinte, o mágico deveria colocar um peixe preto do Nilo nesse óleo balsâmico, peixe esse que tinha sido previamente guardado num frasco, juntamente com uma planta relacionada com Ísis. As palavras mágicas associadas a este ritual eram então ditas sete vezes sobre a mistura conseguida, durante sete dias e sempre pela manhã. Assim, quando o mágico quisesse dormir com a mulher desejada, bastar-lhe-ia untar a cabeça com o íctico óleo perfumado. Supõe-se que depois do banho, já que o amor pode até ser cego, mas não consta que seja anósmico.

Cf. PINCH, Geraldine, Magic in Ancient Egypt, London: British Museum Press, 1994.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Origens da dança do ventre




Hossam Ramzy: o nome, desconhecido para a generalidade dos Ocidentais, pertence a um dos mais famosos compositores de música para dança do ventre da actualidade. Nascido na populosa cidade do Cairo, emigrou para o Reino Unido nos anos 70. Vive agora em Londres, onde compõe e realiza demonstrações de dança do ventre com a sua esposa: a não menos famosa Serena Ramzy.


A dança do ventre aparece recorrentemente associada à cultura árabe, no âmbito da qual é designada de raqs sharqi, porém, uma representação pictórica egípcia do séc. XV a.C. pode indiciar que as origens deste tipo de dança se encontram, não na Península Arábica, mas no Antigo Egipto.


A representação em causa é um fresco pintado no túmulo de Nebamun (imagem acima), um egípcio dos estratos superiores que morreu por volta de 1400 a.C. A cena pretende representar um banquete em que Nebamun, a sua família e amigos se divertem a beber e a apreciar aquilo que parece ser uma dança do ventre, acompanhada de música e de palmas. Enquanto uma das figuras representadas na parte inferior do fresco toca uma flauta dupla, parecida com o aulós grego, uma outra parece estar a bater palmas com as mãos, possivelmente marcando o ritmo da composição.


Pormenor não menos relevante é a indumentária das figuras representadas: as duas figuras mais à direita na parte inferior do fresco parecem estar vestidas apenas com um largo colar no pescoço, pulseiras nos braços, bandoletes sobre as cabeleiras frisadas e cintos sobre as ancas, numa inabitual representação egípcia do corpo feminino na sua verdade anatómica.


Para Andrea Deagon, doutorada em Estudos Clássicos que se tem dedicado ao estudo das danças orientais, a nudez das dançarinas do fresco de Nebamun pode ser entendido como uma expressão de uma “sexualidade honesta”, diferente da sensualidade exalada pelas odaliscas dos haréns sultânicos. Acrescenta ainda que essa honestidade pode servir de exemplo para as modernas dançarinas do ventre, que com frequência lutam contra a repressão da expressão da sua própria sensualidade.


As representações de dança no Antigo Egipto não são raras, estando presentes tanto em banquetes como em festas religiosas ou rituais funerários, porém, a rigidez das representações pictóricas egípcias, associadas à sua recorrente aspectividade, dificultam a identificação dos géneros de dança no Antigo Egipto. Mas aos olhos dos Romanos um certo tipo de dança caracterizado pelos movimentos de ancas e por uma lânguida agitação executada por mulheres estava associada também ao Antigo Egipto,  já que um relevo encontrado no Terme Museum, datado do séc. II d.C. (imagem abaixo) , representa o popular festival egípcio dedicado ao boi Ápis.



Assim, se não é certo que o fresco de Nebamun represente uma cena de dança do ventre tal como hoje a entendemos, parece contudo manifestar um certo tipo de dança caracterizado pelo movimento das ancas, dos braços e das mãos, numa subtil expressão de emoções conduzidas pela música. Podemos concluir (com Andrea Deagon) que essa representação demonstra a existência de “dança do ventre” no Antigo Egipto, entendida em sentido amplo, em que o elemento central passa pela expressão da sensualidade do corpo feminino.


Cf. Andrea Deagon, “Naked Belly Dance in Ancient Egypt”, http://www.gildedserpent.com/cms/2009/10/19/deagonnakedbdpart1/#fn, 19/Out/2009. 
.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O antigo ser egípcio



Para os antigos Egípcios a existência de qualquer homem dependia de cinco elementos, sem os quais a natureza humana individual não poderia subsistir. Um deles o corpo, ou a estrutura física em que a vida encontra suporte, chamada ha pelos Egípcios. A parte do corpo que os Egípcios consideravam mais importante era chamada ib, o coração. Não só o centro da actividade física, mas também a sede de pensamentos e de emoções. De facto, os Egípcios não tinham o cérebro em grande conta, a ponto de, no acto de mumificação, o cérebro ser retirado pelas narinas e deitado fora como se fosse um orgão menor. Já o coração a maior parte das vezes ficava no seu lugar, dentro da múmia.


A sombra constituía o segundo elemento essencial de qualquer humano, inclusivé do faraó. Os Egípcios chamavam-lhe shut e, porque era projectada a partir do corpo, acreditavam que na sombra havia qualquer coisa do corpo. As representações dos deuses eram por vezes designadas de shut.


Sem o ba nenhum homem sobreviveria. O ba consistia em tudo aquilo que constitui um homem e que não faz parte do corpo. Era a “personalidade” que emanava da pessoa. O conceito egípcio de ba aproxima-se do nosso conceito de “alma”, algo espiritual e não físico que sobrevivia à morte do corpo. Porém, nem só os corpos humanos tinham um ba, alguns objectos também, por exemplo uma porta. Imagine-se porquê.


Para além do ba, todo o indivíduo tinha um ka, a “força da vida”. O ka distinguia um morto de um vivo: só um ser vivo o tinha, os mortos já não. Para os Egípcios, o ka fora originado com o criador e transmitido aos mortais através do faraó e dos pais da pessoa em causa. O ka era representado com a figura do indivíduo, sendo por isso chamado o seu “duplo”. Como não seria de esperar outra coisa, o ka era alimentado com comida e bebida. Curiosamente, apenas os seres humanos e os deuses possuíam ka, os animais parece que não.


O último elemento imprescindível à constituição plena do indivíduo era o nome, ren como lhe chamavam os Egípcios. A importância do nome reflecte-se no cuidado quase obsessivo em preservar os nomes nos túmulos e em outros monumentos pessoais. Alguma razão deviam ter os Egípcios: sem saber o nome de uma pessoa, não pode dizer-se que se conheça esse indivíduo, ainda hoje. Imagine-se uma pessoa sobre a qual tudo se conhece excepto o nome.


Assim, ha, shut, ba, ka e ren definiam e constituiam o indivíduo egípcio, sem mais. Uma espécie de micro-estrutura que se embutia mais ou menos perfeitamente na macro-estrutura cultural do Antigo Egipto, essa terra que Eça de Queirós chamou “o país mais fecundo que ao homem foi dado semear”.


Cf. Allen, James P., Middle Egyptian, Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
.....Araújo, Luís Manuel de, Eça de Queirós e o Egipto Faraónico, Lisboa: Editorial Comunicação, 1988.
.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A arte escrita do Antigo Egipto



Nesta reconstrução de Ernst Weidenbach (de 1845), o faraó faz uma oferenda ao deus supremo Amon-Ré. Tanto o deus como a figura que o acompanha, atrás, têm na mão direita, não uma chave, mas uma letra egípcia, o ankh, que significa "vida". A coroa de Amon-Ré tem não só o disco solar, i.e. o hieróglifo que significa Rá/Ré, mas também duas penas verticais. Na mentalidade egípcia, dois significa equilíbrio. Pois o Egipto não foi sempre uma realidade dual? Sempre o Alto e o Baixo Egipto, desde 3300 a.C. até aos Ptolomeus. E não é que a coroa da tal figura feminina que está atrás de Amon-Ré - na verdade a seu lado - significa também Alto e Baixo Egipto. Nada é insignificante na arte escrita dos Antigos Egípcios.
.