Réplica de tabuinha neo-assíria com inventário de bens
Na fase da história hitita conhecida como o período das colónias assírias (sécs. XX-XVIII a.C.), estabeleceu-se um grande número de mercadores assírios na zona nordeste da Anatólia, que então realizavam um lucrativo comércio, por exemplo com margens de 100% no estanho ou mesmo 200% no caso dos têxteis. De qualquer modo, os grandes comerciantes não se coibiam de fugir a impostos e taxas que reputavam desnecessários.
Uma das formas conhecidas de escapar à tributação consistia em levar as mercadorias por caminhos conhecidos como ḫarran suqinnim, ou seja, “atalhos”, fugindo assim ao controlo de circulação de mercadorias efectuado nas grandes avenidas da época. Um método alternativo, ou complementar, passava por fazer entrar mercadorias nas cidades em pequenas quantidades, frequentemente escondidas debaixo da roupa. Havia até contrabando de mercadorias ilícitas, especialmente exportação de ferro meteorítico, que estava proibida dada a raridade deste metal.
Sobreviveu um registo de um conselho dum comerciante a um sócio acerca dos problemas do contrabando:
“O filho de Irra enviou os seus bens contrabandeados a Pushu-ken, mas os bens contrabandeados foram apanhados e o palácio [ou seja, as autoridades do palácio] capturaram Pushu-ken e puseram-no na prisão. Os guardas são fortes. A rainha enviou mensagens a Luhusaddia, Hurrama, Salahsuwa e ao seu próprio país acerca do contrabando e foram colocados vigias [literalmente “olhos”]. Por favor não contrabandeies nada.”
À parte as duras penas aplicadas aos contrabandistas, frequentemente prisão e confiscação dos bens, é caso para perguntar se este comerciante partilharia daquela ideia chinesa de que “quem prospera não discute impostos” ou se, inversamente, adaptaria este provérbio à sua maneira. O facto é que ele, de forma até bastante educada, roga ao sócio para que “por favor” não contrabandeie. Sem dúvida, um exemplo de empresário.
Cf. BRYCE, Trevor, The Kingdom of the Hittites, Oxford: Oxford University Press, 2005.
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