Nos primeiros tempos de Roma, o uso do perfume cingia-se a um feixe de verbena pendurado na porta, para afastar o mau-olhado. Mesmo os sacrifícios aos deuses eram limitados a um ramo de louro e um pouco de sal a perfumar as fumegantes carnes. Porém, os contactos com Etruscos, Gregos, Egípcios e Fenícios, bem como com outros povos asiáticos e africanos, tornaram os Romanos mais apreciadores da arte do perfume, integrando-a no quotidiano.
A mudança foi também económica ou comercial: a conquista romana da Arábia, em 109 d.C., permitiu um maior domínio das rotas comerciais do Oriente, abrindo caminho para que diversos perfumes chegassem a Roma e fazendo que os valentes soldados romanos abrissem as narinas às fragrâncias orientais.
Efectivamente, a sedução que Cleópatra VII Filopator exerceu sobre Júlio César e Marco António também terá passado pelos seus seios perinasais, excitando cornetos superiores e inferiores e sensibilizando os respectivos bulbos olfactivos. Conta-se que Cleópatra VII recebeu Marco António num barco cujas velas estavam embebidas em perfume, com a própria tripulação elegantemente vestida e abudantemente perfumada. O próprio trono de Cleópatra estava rodeado de piras perfumantes, fazendo com que Cleópatra, meio vestida (ou meio despida), aparecesse envolta num inebriante perfume.
A moda, qual pandemia gripal, espalhou-se pelos soldados romanos, a tal ponto que logo no séc. I a.C. os centuriões romanos iam para a guerra acompanhados de um cofre de perfumes, chegando mesmo a aromatizar as próprias armas. Inclusivé, as águias e os estandartes romanos eram perfumados antes da guerra ou das aborrecidas paradas oficiais.
A necessidade do uso de perfumes em Roma parece estar relacionada com as deficientes condições de salubridade da cidade, mas não só: a técnica de persuasão dos deuses através das narinas aparece também em Roma e na religião romana, já que um dos caminhos mais curtos para chegar aos altíssimos deuses passava pela oferta de perfumes aos Romae dii, às divindades de Roma.
Para aferir da importância social do perfume, bastará lembrar que os unguentarii, os produtores de perfumes, recebiam a mesma estima pública que os médicos, ocupando posições honoríficas ou de carácter sócio-religioso. As lojas de perfumes, em Roma, estavam concentradas no Vicus Thurarius, onde o famoso perfumista Cosmus tinha a sua loja. Mas também em Cápua, a capital italiana do perfume, havia uma zona dedicada ao comércio de unguentos bem cheirosos, designada Spelasia.
Havia perfumes para todos os gostos: sólidos (ou hedysmata), líquidos (stygmata) ou em pó (diapasmata), sendo os primeiros os mais favorecidos pelo público. Os homens, por exemplo, para tratar os pequenos cortes produzidos pelo barbear massajavam a cara com unguentos aromatizantes, prosseguindo com a aplicação de perfume no cabelo.
Mas também as mulheres romanas tratavam da sua embalsamante pulcritude: um dos casos mais extraordinários remete para a mulher de Nero, Popeia: pelo que se conta, chegou a tomar banho com leite de burra para ficar com a pele mais cheirosa. Parece que a senhora era a tal ponto extravagante que foi exilada de Roma, ainda que insistisse em levar com ela cinquenta burras que lhe fornecessem leite para os delico-doces banhos.
No quotidiano mais banal da mulher romana havia também lugar para o perfume. Depois do banho, as ornatrices tratavam da cidadã romana com um sofisticado ritual de beleza: as tractatores massajavam-na depois do banho, as unctoristes aplicavam os diversos unguentos nas várias partes do corpo, as dropecistes tratavam das mãos e dos pés, as depilaristes está-se mesmo a ver que removiam os pêlos inestéticos e, finalmente, as calamistes penteavam e ornamentavam o cabelo, por vezes com pó, não de arroz, mas de ouro.
A rarirade de mulheres louras em Roma fazia que muitas quisessem clarear o cabelo, recorrendo a lavagens frequentes com um bálsamo extraído do arbusto tropical conhecido por Lawsonia inermis. As prostitutas eram mesmo obrigadas a usar o cabelo louro, pois estavam proibidas de usar cabelo preto. Uma vez o cabelo seco, era finalmente vaporizado com um perfume: a técnica de vaporização não podia ser mais natural, uma escrava especialmente dedicada a essa função usava a sua boca, previamente perfumada, como vaporizador do cabelo da sua ama. Pelo menos assim não trazia problemas à camada de ozono…
Cf. Seefried, Monica, "Perfume in roman daily life", The Fragrant Past, Perfumes of Cleopatra and Julius Caesar, Atlanta: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1989.
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Muito interessante...pena alguns homens (e mulheres) de hoje terem perdido os bons hábitos romanos!!!
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