quinta-feira, 4 de março de 2010

Magia afrodisíaca

Menna pescando. Túmulo de Menna, Tebas, 1400-1350 a.C.

No Antigo Egipto, o acto mágico não era entendido como bruxaria de segunda linha, mas, pelo contrário, tinha o carácter de uma prática sagrada, já que continha a força criativa que existira no estabelecimento do universo. Mesmo a magia privada tinha um estatuto importantíssimo no quotidiano do homem egípcio, servindo quer para proteger da doença, quer para impedir que as privações o atingissem.

Os rituais mágicos empreendidos eram diversos, comportando palavras e ingredientes criteriosamente seleccionados, sendo realizados em momento adequado e propício ao bom efeito desejado. Por exemplo, julgava-se que os rituais teriam mais efeito ao amanhecer, quando as forças cósmicas se renovam. A potenciação do ritual, nalguns casos, passava ainda pela pureza do oficiante do ritual, conseguida por exemplo pela abstinência da carne de porco (ou de peixe) ou mesmo por meio de procedimentos especiais como a circuncisão ou a rapagem do cabelo e dos pêlos do corpo. Alguns papiros greco-egípcios indicam mesmo que o oficiante da magia não podia ter relações sexuais durante três ou sete dias.

No documento conhecido por Papiro Demótico de Londres-Leiden, encontra-se a descrição de um ritual destinado a obter o amor de uma mulher. De início, o mágico deveria fazer a invocação das deusas associadas com o olho solar, solicitando então que o poder de Ré entrasse no óleo perfumado que ele usaria como afrodisíaco. No passo seguinte, o mágico deveria colocar um peixe preto do Nilo nesse óleo balsâmico, peixe esse que tinha sido previamente guardado num frasco, juntamente com uma planta relacionada com Ísis. As palavras mágicas associadas a este ritual eram então ditas sete vezes sobre a mistura conseguida, durante sete dias e sempre pela manhã. Assim, quando o mágico quisesse dormir com a mulher desejada, bastar-lhe-ia untar a cabeça com o íctico óleo perfumado. Supõe-se que depois do banho, já que o amor pode até ser cego, mas não consta que seja anósmico.

Cf. PINCH, Geraldine, Magic in Ancient Egypt, London: British Museum Press, 1994.

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